Por causa da exigência da disciplina de projetos, realizei uma pesquisa sobre a história social das crianças desde a idade média até os dias atuais. Gostei tanto desse assunto que mesmo após ter me formado, continuo pesquisando. Gostaria de compartilhar com vocês um pouco desse trabalho. Boa leitura
Hoje uma pergunta que rondam os pais e educadores é: O que está acontecendo com as crianças?

Na idade média, as crianças eram consideradas como um ser sem alma , um ser substituível,onde depois dos sete anos ajudava nas tarefas para auxiliar a família. Já a classe mais privilegiada, como a nobreza, dirigia seus filhos às amas ou camponesas que eram responsáveis pela criança até a idade de casar, que naquela época era bem precoce aproximadamente pelos onze anos. Portanto não tinha uma divisão da infância com adolescência.
A vida social dessas crianças era envolvida pela vida social dos adultos. Tudo era imitado, suas roupas, participação em festas e reuniões.
As crianças cresciam no meio dos criados sem haver preocupação alguma com disciplina ou com comportamento. Muitas vezes essa criança presenciava vulgaridades e brincadeiras grosseiras, ou seja, não acreditavam na inocência das crianças.
A família era social e não sentimental.
Nesse contexto, já haviam pessoas que se preocupavam com a disciplina e comportamento das crianças. Erasmo de Roterdã escreveu o primeiro livro sobre “etiqueta infantil”. O texto de Erasmo era uma expressão bem acabada de um gênero pedagógico e literário que conheceria grande sucesso nos séculos seguinte. Era, também, além de ser um tratado pedagógico, era um manual de civilidade, obra dedicada ao tema da etiqueta e das boas-maneiras (ERASMO, 1978).
Sua obra foi utilizada como base para muitas escolas que vieram a surgir. Foi utilizado também e principalmente pelos jesuítas, que eram responsáveis pela educação dos filhos da elite.
Com os Jesuítas veio a idéia que a criança era um ser que precisava ser “domesticado” através de valores passados pelos adultos. Era uma disciplina de humilhação, ou seja, do chicote e espionagem. A criança devia obediência aos adultos sem questionar. Se a criança não obedecesse, ganhava punições como castigos físicos (palmatória), servindo como exemplo aos demais.
No século XVII, com o cristianismo em alta, surge um modelo de família que é aceita pela sociedade e é copiada. A sociedade sofre mudanças no modo de pensar e de perceber a criança. Essa nova etapa surge na Europa com o crescimento urbano e a transformação da família patriarcal em nuclear e conservadora, onde o pai é a autoridade máxima dentro de casa. Começa então um período de paparicação, onde a criança agora é vista como um ser bondoso que precisa de cuidados, onde a família se responsabiliza por isso. Philipe Áries denominou esse período de surgimento da infância. Surge então uma preocupação de educar essa criança para se comportar com disciplina e costumes dentro de uma visão mais racional.
A partir desse momento é necessário que as crianças aceitassem e assumissem as novas regras e valores para se adequar a essa nova realidade.
O relaxamento da antiga disciplina escolar corresponde a um novo sentimento da infância, ou seja, uma nova concepção de educação.

O comportamento começou a ser explorado cientificamente por John B. Watson em 1913 cuja sua teoria denomina- se Behaviorismo. É um termo inglês que significa comportamento.
Para o Behaviorismo o comportamento é algo mensurável e que pode ser reproduzido em diferentes condições e em diferentes sujeitos, através do estímulo e resposta, ou seja, quando é influenciado, com reforço positivo ou negativo. É obtido o comportamento desejado. Esses reforços se dão através de elogios ou prendas para estimular um comportamento e punições para afastar o mau comportamento. Mas ainda não se preocupavam com a moral e ética das crianças.
Em 1932, Piaget escreveu “ Le Jugement Moral chez L´Enfant, uma obra que tem como tema a moralidade. Nela Piaget nos mostra que o comportamento e a criação moral ocorrem em etapas características da idade.
Para Piaget a moral consiste num sistema de regras, onde é construído puramente social.
Ele também nos ensina que a consciência moral não aparece junto com a sensação moral. Essas pesquisas mostraram que na evolução do ser humano a moral se inicia na etapa genética Anomia, ou seja, uma etapa que começa no nascimento e discorre por volta dos cinco ou seis anos, onde a criança não segue regras coletivas, geralmente a moral não se coloca, as normas de conduta são determinadas pelas necessidades básicas. Porém, quando as regras são obedecidas, são seguidas pelo hábito e não por uma consciência do que se é certo ou errado.
A heteronomia, que se estende dos seis anos até os nove ou dez anos de idade,surge a ideia de que as regras e normas morais são intocáveis, que não podem ser mudadas e qualquer mudança é desonesta.Nessa fase desenvolve um sentimento que Piaget denominou de realismo moral e que convive com duas idéias, que são:
* Todo ato que é desenvolvido de acordo com as regras passadas pelo adulto é sempre bom e justo.
* As regras valem pelo que dizem e não pela intencionalidade que as envolve.
Já na fase da autonomia que equivale dos dez anos em diante, já possuem consciência das regras e moral, mas seguem de acordo com sua consciência.
Levando em consideração todas essas descobertas vieram para definir a noção de infância do século XX as tendências progressistas, que mostravam que a criança precisa de liberdade para aprender e criar sua identidade a partir do meio social. Junto veio também a ideia de que a rigidez com as regras poderia transformar as crianças em robôs ou até levar a traumas psicológicos.
Seguindo esse raciocínio A. S. Neill, acreditava que a convivência com os pais impedia os filhos de desenvolver a segurança suficiente para reconhecer o mundo, ou seja, ele acreditava que os pais só atrapalhavam os filhos. No seu livro, até comenta que são os pais que impede dos filhos a encontrar a felicidade.
Na nossa sociedade, com todas essas influencias e com a estrutura familiar que também se transformou com o tempo, as crianças já não são educadas com tanta rigidez.
Antes o comportamento era “moldado” pela estrutura familiar, antes conservadora. Atualmente o poder dos pais foi trocado por uma relação “democrática”, ou seja, ficou mais flexível dando voz aos filhos para ter mais entrosamento.
Mas não deu muito certo. Ocorreu então uma grande confusão, ocorrendo enganos e mal entendimento sobre essa nova forma de relação familiar, na qual a disciplina deu lugar a permissividade.
Os pais quando começam a vida com os filhos, não querem fazer igual aos seus pais, porém no dia a dia, geralmente estressados ou recorrem aos mesmos ensinamentos ou se sentem perdidos.
Como estão se sentindo culpados por não terem tempo para ficar com os filhos, recorrem às conversas, dão mais carinhos e até trocam a culpa por presentes. Mas nada adianta.
Quando a criança nasce, ela é hedonista, ou seja, vive em busca do próprio prazer e da satisfação. Ela tem idéia de que o mundo gira em torno dela e de que todos estão para servi-la. E ainda não possui valores. Os pais são os primeiros e os principais responsáveis pela transmissão de valores. A escola vai contribuir para essa formação, mas de forma alguma pode substituir.
Vendo essa defasagem pelos pais, o ministério da educação criou os temas transversais no qual está incluído a ética, um espaço na escola para ser trabalhado as regras sociais e valores.
“É necessário compreender que atitudes, normas e valores comportam uma dimensão social e uma dimensão pessoal. Referem-se a princípios assumidos pessoalmente por cada um a partir dos vários sistemas normativos que circulam na sociedade.” (pag.33 do PCN dos temas transversais).
Quando não ocorre essa transmissão de valores, por insegurança, culpa ou medo a criança começa a apresentar a dificuldades em aceitar qualquer tipo de limite.
Estabelecer regras sociais não causa traumas, pelo contrário, auxilia no desenvolvimento de um cidadão consciente.
Os pais não conseguem separar a necessidade da criança com o desejo. O psicólogo Abraham Maslow desenvolveu uma teoria psicológica em que o ser humano possui necessidades que ocorrem em cinco grupos de forma hierárquica: Necessidades fisiológicas, necessidades de segurança, necessidades sociais, necessidades de estima e necessidade de auto realização.
Os pais precisam reconhecer que devem suprir as necessidades e não os desejos, ou seja, se a criança está com fome, ela precisa de alimento e não de uma barra de chocolate. Nesse momento a criança não aceita o alimenta e utiliza de argumentos como choro, birra, gritos para convencer o adulto a fazer o que ela quer.
Para evitar situações desagradáveis, os pais se tornam prisioneiros nas suas próprias casas, assustados e sentindo culpados por até eles não agüentarem essa criança que possui mais autoridade do que eles.
A criança cresce então com uma visão distorcida da realidade e com uma deformação na percepção do outro.
Uma criança sem limites pode acarretar com ela várias conseqüências: falta de interesse pelos estudos, falta de concentração, falta de capacidade de suportar dificuldades, falta de persistência e desrespeito pelo outro.
Em resumo, a sociedade de hoje não está preparada para educar essa nova geração. Confusões de pensamentos, valores invertidos, famílias desestruturadas, educadores perdidos em várias tendências, pais culpados sem tempo e as crianças
No meio disso tudo, fica abandonada sem alguém responsável pela sua educação, tendo só o meio em que vive (que também está em crise) para nortear o seu caminho.
Bibliografia: ZAGURI, Tania. Limites sem traumas. SP: Record, 2000.
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BOCK, Ana M. Bahia, FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria de Lourdes. Psicologias: Uma introdução ao estudo de psicologia. 8ª ed SP: Editora Saraiva,1995
AQUINO, Júlio Groppa. A questão Ética na Educação Escolar ( artigo científico)
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TAILLE,Yves de La(1). A Dimensão Ética na Obra de Jean Piaget ( artigo científico ) baixado em 17 de agosto de 2010 no site WWW.scribd.com/ doc/7284365/A-Dimensao-Etica-Na-Obra-de-Jean-Piaget
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